Por que estudar artes? ( e sugestões de animações)

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Garrafas revestidas de tecido – 6º ao 9º ano

Uma vez me perguntaram em sala de aula “por que estudar artes?” – na verdade mais de uma vez, e cada vez chegamos em respostas diferentes, mas aqui vai o relato de uma dessas vezes. Obviamente eu retornei a pergunta para a turma: por que estudar artes? Esta era uma turma de sexto ano e eles responderam com tom de provocação que não podia ser apenas por conta da criatividade, porque não precisarão muito dela na vida. Eu disse que realmente criatividade era apenas uma das coisas que exercitavam e perguntei novamente, ao que me responderam algo como porque alguém decidiu que seria obrigatório. Embora parte da turma me olhasse com aquele de “agora pegamos ela”, outra parte parecia ter uma dúvida real sobre a questão, que, inclusive, considero extremamente pertinente.  Continuamos então a conversa. Primeiro falei um pouco sobre a diversidade de momentos em que usamos a criatividade, seja para resolver um problema difícil, seja para ter melhores resultados em diferentes trabalhos, e depois falei de alguns motivos mais óbvios para o estudo da arte como desenvolver a inteligência espacial e a coordenação motora, experimentar diferentes formas de expressão, etc. Então perguntei sobre as outras matérias, por que estudá-las? Matemática e português tem funções

Releitura dos bonecos Karajá com argila.  6º ano

Releitura dos bonecos Karajá – 6º ano

práticas que todo mundo pontua com facilidade, mas filosofia, geografia, ciências, se você não for trabalhar com isso, por que estudá-las? O que falei foi que todas elas nos ajudam a compreender o mundo de uma forma específica. Eu posso observar o mundo pelas lentes da matemática, da história, da língua, e cada área vai trazer informações, métodos, questões, ferramentas para nos ajudar a compreender o mundo

em que vivemos. As artes (e a cultura visual) também. Por meio delas podemos perceber, conhecer, criticar, experimentar, sentir, produzir uma série de coisas. Podemos entrar em contato com a produção sensível de diferentes lugares e tempos, podemos observar as diferenças entre povos, podemos sentir muita coisa. Podemos ser provocados/as, podemos sair de nossa zona de conforto e compreender melhor o mundo que nos cerca.
Sei que existem inúmeras respostas possíveis para a pergunta que me fizeram, mas esta eu quis compartilhar. E agradeço muito aos meus/minhas alunos/as (que também são meus/minhas mestres/as) que perguntaram isso diversas vezes e que muitas vezes me tiraram também de minha zona de conforto.
Agora, deixo uma animação de histórias do poeta Manuel de Barros e o trailer de uma animação longa metragem chamada O menino e o mundo. Cada animação mostra diferentes olhares sobre o mundo. Aproveite!



Saiba mais sobre esta animação em http://omeninoeomundo.blogspot.com.br/p/blog-page_9.html

E vocês o que acham? Por que estudar artes na escola?

Matéria de poesia

Os trabalhos de arte fazem poesia sem usar necessariamente as palavras. São poesias visuais, táteis, sonoras, que podem ser feitas sobre qualquer tema e com os mais variados materiais.

Em um de seus poemas chamado “Matéria de poesia”, Manoel de Barros escreve o seguinte:

” Todas as coisas cujos valores podem ser rachadura
disputados no cuspe à distância
servem para a poesia

O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia

(…)

As coisas que não levam a nada
têm grande importância

(…)

As coisas que os líquenes comem
– sapatos, adjetivos –
tem muita importância para os pulmões
da poesia

Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia (…)”

Esse poema fala de coisas meio sem importância mas que servem para a poesia e para a arte em suas diferentes linguagens.

Veja um exemplo de uma coisa bem cotidiana que, vista sob um novo ângulo, fica interessante:

  • Você já viu alguma coisa cotidiana que ninguém mais percebeu, mas que era muito interessante?
  • Já observou o movimento da cabeça dos calangos, uma teia de aranha brilhando com o sol, uma rachadura que parece um desenho, um reflexo na água ou a forma das nuvens?
  • Que tal fazer uma lista dessas coisas interessantes e curiosas, mas normalmente “desimportantes” como diz o Manoel de Barros?